Comunicando-se com
um Surdocego.

QUEM É O SURDOCEGO?
São várias as definições que tentam esclarecer a surdocegueira e definir
o surdocego, de forma que, possamos conhecê-lo melhor para poder planejar o
atendimento, elaborar os programas
educacionais e também dar maior apoio
às famílias.
Uma das definições mais antigas diz: ”Surdo-cegas são crianças que tem
dificuldades auditivas e visuais, cuja combinação resulta em problemas tão
severos na comunicação e outros problemas dedesenvolvimento
e educação, que elas não podem ser integradas
em programas educacionais especiais para deficientes auditivos ou deficientes
visuais” (Lieke de Leuw, 1997).
Atualmente temos uma postura diferente, nos preocupamos em descobrir
quais as possibilidades que a criança apresenta e suas necessidades em vez de
destacar suas dificuldades. Assim temos descoberto muitos recursos para
atendê-las.
Também existem outros recursos para reconhecer um surdocego e outras
informações sobre o seu desenvolvimento. Temos informações de que crianças
surdo-cegas brasileiras desenvolveram condições de serem educadas com os
surdos, comunicando-se em LIBRAS e usando o Braile para o reconhecimento da
leitura e escrita. Mas para que isso aconteça é necessário que a intervenção
seja precoce.
O portador de surdocegueira não pode ser assemelhado nem a um surdo nem
a um cego, pois constitui um caso bastante particular.
Classificação
de acordo com a intensidade das perdas:
·
Existência de um resíduo auditivo e
de um resíduo visual;
·
Surdez total e resíduo visual;
·
Resíduo auditivo e cegueira total;
·
Surdez e cegueira totais.
Tipos:
Cegueira congênita e surdez adquirida;
Cegueira e surdez adquiridas;
Surdez congênita e surdez adquirida;
Baixa visão com surdez congênita ou adquirida; e
Cegueira e surdez congênitas.
O grupo mais numeroso de surdocegos é compostas por pessoas
com 65 anos ou ainda mais idosas,
que adquiriram a deficiência sensorial tardiamente. As causas da surdocegueira
podem ser acidentes graves; a condição genética da síndrome de Usher (as
manifestações clínicas desta síndrome incluem a surdez, que se manifesta logo
no início da vida e a perda visual que ocorre, geralmente, mais tarde) e
surdocegueira congênita resultante de doenças como a rubéola ou de nascimentos
prematuros.
Alguns problemas e doenças podem causar deficiência múltipla, como:
ü Icterícia: é comum em recém-nascidos.
Refere-se à cor amarelada da pele e do branco dos olhos que são causados pelo
excesso de bilirrubina no sangue. A bilirrubina é um pigmento normal, amarelo,
gerado pelo metabolismo das células
vermelhas do sangue. A criança fica ictérica
quando a formação de bilirrubina é maior do que a capacidade do seu fígado de
metaboliza-la. O acúmulo desse pigmento acima de certos níveis é extremamente
tóxico para o sistema nervoso, podendo causar lesões graves e irreversíveis.
ü Prematuridade: a prematuridade ainda é
frequente em nosso meio; existem casos de prematuridade extrema que podem
causar sequelas como: atraso motor, retinopatia e deficiência
auditiva. Mas é importante ressaltar que nem
todos os prematuros irão apresentar sequelas intelectuais ou motoras.
ü Sífilis congênita: o contaminador é a mãe. O
contágio ocorre por via placentária, exclusivamente após o quarto mês. Em caso
de infecção maciça, o feto morrerá após o quinto mês. Sobrevivendo, o feto
poderá adquirir lesões que se manifestam após o nascimento ou muitos anos mais
tarde, como deficiência intelectual, surdez, defeitos dentários e outras
consequências de lesões degenerativas do sistema nervoso central.
ü Meningite: é uma inflamação das membranas
que recobrem e protegem o sistema nervoso central: as meninges. A meningite
pode ser de origem viral, adquirida depois de alguma gripe ou outra doença
causada por vírus, ou de origem bacteriana. A pessoa com meningite apresenta
alguns sintomas: febre, rigidez da nuca, dor de cabeça e vômitos. Saber se a
meningite foi causada por vírus ou bactéria é importante porque a gravidade da
doença e o tratamento diferem. A meningite viral é geralmente menos grave e
cura-se sem tratamento específico, enquanto a meningite bacteriana pode ser muito
séria e resultar em danos ao cérebro, perda de audição ou dificuldade de
aprendizado.
ü Síndrome de West: é um tipo raro de
epilepsia. As convulsões afetam geralmente crianças menores de 1 ano. Os
espasmos são diferentes para cada criança. Podem ser tão leves no inicio que
nem são notados. No inicio, a criança pode apresentar um ou dois espasmos por
vez, mas, no decorrer de um período de dias ou semanas, evoluem para dúzias de
espasmos que ocorrem em intervalos de poucos segundos. Podem aparecer em diferentes
circunstâncias, por exemplo: em crianças com enfermidades estruturais do
cérebro (fenilcetonúria, esclerose tuberosa, entre outras) ou em crianças com
lesões cerebrais não progressivas (sequelas de infecções pré-natais, anóxia pré
ou perinatal, meningites, entre outras).
ü Anóxia: é definida como ausência de
oxigenação das células cerebrais. Cada indivíduo apresenta um quadro
específico, podendo perder o movimento muscular, a visão, a audição, ter
dificuldade para falar e, mais raramente, ter comprometimento mental. Dependerá
de quais células forem afetadas.
ü Fator RH Negativo: apresenta-se devido à
incompatibilidade de RH; se um pouco de sangue fetal entrar em contato com a
corrente sanguínea da mãe, o corpo produzirá anticorpos. Esses anticorpos podem
voltar para a placenta e danificar o desenvolvimento dos glóbulos vermelhos do
bebê, causando uma anemia no feto que pode ser de muito suave a muito grave. É
bem mais comum na segunda gestação e nas subsequentes. As consequências são
sérias lesões neurológicas.
ü Glaucoma: é uma alteração em que a
pressão do líquido que preenche o globo ocular está anormalmente aumentada.
Esse acúmulo se produz pelo aumento da formação do líquido ou pela obstrução do
conduto pelo qual normalmente esse líquido sai do olho. O glaucoma ocasiona
lesão no olho; se não for tratado e se o processo não for controlado, podem
levar à cegueira. As pessoas que tem maior risco de sofrer de glaucoma são as
diabéticas e as com familiares que têm glaucoma.
ü Síndrome de Usher: de origem
genética, tem graus variáveis, associando a surdez, presente já no nascimento,
com a perda de visão, que se inicia na infância ou na adolescência. A cegueira
parcial ou total é causada pela retinose pigmentar. A doença afeta, primeiro, a
visão noturna e, depois, a periférica, das laterais, preservando por mais um
tempo a central. Também há sensibilidade a excesso de luz.
Existem
quatro tipos:
ü Tipo I: provoca deficiência auditiva
profunda de nascimento e retinose pigmentar, cegueira noturna com perda de
equilíbrio;
ü Tipo II: provoca deficiência auditiva
leve à moderada, não progressiva, com retinose pigmentar no inicio da
puberdade; cegueira noturna com perda de equilíbrio, na maioria dos casos, na
fase adulta.
ü Tipo III: provoca deficiência auditiva
congênita progressiva, com retinose pigmentar e cegueira noturna na infância
com perda de equilíbrio;
ü Tipo IV: é um tipo mais raro, afeta
apenas 10% da população com a síndrome.
v Toxoplasmose: é uma doença infecciosa causada
por um protozoário chamado Toxoplasma Gondii, que pode ser encontrado em fezes
de gatos e em outros animais contaminados. Ter a doença durante a gestação
significa risco elevado de comprometimento fetal. Pode ocorrer aborto,
crescimento intrauterino abaixo do normal, morte fetal, prematuridade,
microftalmia (olhos pequenos), microcefalia (crânio pequeno), hidrocefalia,
deficiência intelectual, lesões de pele e calcificações do cérebro.
v Consanguinidade: significa o grau de parentesco
entre indivíduos de ascendência comum. Podem ocorrer diversas sequelas, entre
elas: síndromes degenerativas, deficiência intelectual, deficiência física,
deficiência auditiva e deficiência visual.
Classificação
de acordo com a época de aquisição:
Surdocego
pré-linguístico: classifica-se como aquele que
apresenta a surdocegueira congênita (no período gestacional), após o
nascimento, mas antes da aquisição da linguagem ou surdez antes da aquisição da
linguagem e posterior cegueira.
Surdocego
pós-linguístico: classifica-se assim, aquele que
adquiriu surdocegueira após a aquisição da linguagem ou cegos com posterior
surdez.
Os surdocegos possuem diversas formas para se comunicar com as outras
pessoas. A LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, desenvolvida para a educação
dos portadores de deficiência auditiva, pode ser adaptada aos surdocegos
utilizando-se o tato. Colocando a mão sobre a boca e o pescoço de um
intérprete, o portador de surdocegueira pode sentir a vibração de sua voz e
entender o que está sendo dito, esse método de comunicação é chamado de tadoma.
Também é possível para o surdocego escrever na mão de seu intérprete utilizando
um alfabeto manual ou redigir suas mensagens em sistema Braille (língua formada
de pontos em relevo criada para a comunicação das pessoas cegas). Existe ainda
o alfabeto moon, que substitui as letras por desenhos em relevo e o sistema
pictográfico, que usa símbolos e figuras para designar os objetos e ações.
Alfabeto manual - Consiste em fazer, com a
mão, um sistema de signos sobre a palma do interlocutor. São variados os
códigos adotados nesse procedimento; a forma mais usual é aquela onde cada
letra é representada pelas diferentes posições dos dedos e da mão.

Língua de Sinais - Consiste em uma forma
de comunicação construída no espaço através de configurações das mãos em
movimentos diferentes e pontos de contato no corpo.
Tadoma - Método de linguagem receptiva onde a pessoa surda-cega,
através do tato, decodifica a fala do seu interlocutor. Consiste em colocar a
mão no rosto do locutor de tal forma que o polegar toque, suavemente, seu lábio
inferior e os outros dedos pressionem, levemente, as cordas vocais. Este
procedimento possibilita a interpretação da emissão dos sons através do
movimento dos lábios e da vibração das cordas vocais.
Sistema Braille - Sistema de escrita e leitura tátil criado por Louis Braille, em 1824. Ainda aluno da "Instituition des Jeunes Aveugles", em Paris, o jovem cego Louis inspirado na "grafia sonora", idealizada pelo Capitão de Artilharia Carlos Barbier de la Serre, inventou o Sistema, ainda hoje utilizado, com pequenas modificações, em todo o mundo. Consiste no arranjo de seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos. As diferentes posições desses seis pontos permitem a representação de todas as letras do alfabeto, dos sinais de pontuação, dos símbolos da matemática, da música e outros.

Como Ajudar um Surdocego.
1. Ao aproximar-se de um surdo-cego, deixe que ele perceba sua presença com
um simples toque.
2. Qualquer que seja o meio de comunicação adotado faça-o gentilmente.
3. Combine com ele um sinal para que ele o identifique.
4. Aprenda e use qualquer que seja o método de comunicação que ele saiba.
Se houver um método, conheça-o, mesmo que elementar.
5. Se houver um método mais adequado que lhe possa ser útil, ajude-o a
aprender.
6. Tenha a certeza de que ele o percebe, e que você também o está
percebendo.
7. Encoraje-o a usar a fala se conseguir, mesmo que ele saiba apenas
algumas palavras, para os que têm resíduos auditivos.
8. Se houver outras pessoas presentes, avise-o quando for apropriado para
ele falar.
9. Avise-o sempre do que o rodeia.
10. Informe-o sempre de quando você vai sair, mesmo que seja por um
curto espaço de tempo. Assegure-se que fica confortável e em segurança. Se não
estiver, vai precisar de algo para se apoiar durante a sua ausência. Coloque a
mão dele no que servirá de apoio. Nunca o deixe sozinho num ambiente que não
lhe seja familiar.
11. Mantenha-se próximo dele para que ele se perceba sua presença.
12. Ao andar deixe-o apoiar-se no seu braço, nunca o empurre à sua
frente.
13. Utilize sinais simples para avisá-lo da presença de escadas, uma
porta ou um carro.
14. Um surdo-cego que esteja se apoiando no seu braço, perceberá de
qualquer mudança do seu andar.
15. Seja cordial, exerça sua consideração e senso comum.
16. Escreva na palma da mão do surdo-cego.
a. Qualquer pessoa que saiba escrever letras maiúsculas pode fazê-lo na mão
do indivíduo surdo-cego, além de traços, setas, números, para indicar a
direção, e do número de pancadas na mão, que podem indicar quantidades.
b. Escreva só na área da palma da mão e não tente juntar as letras. Quando
quiser passar a escrever números, faça um ponto, com o indicador, na base da
palma de sua mão, isso lhe indicará que dali em diante virá um número.
Algumas características dos alunos
surdocegos.
· Podem apresentar movimentos estereotipados;
· Não demonstram saber as funções dos objetos ou brinquedos;
· Podem rir e chorar sem causa aparente;
· Podem apresentar resistência ao contato físico;
· Movimentam os dedos e as mãos em frente aos olhos;
· Não se comunicam de maneira convencional;
· Tropeçam muito e batem nos móveis, objetos, etc;
· Gostam de ficar em locais com luminosidade;
· Podem não reagir aos sons.
Algumas orientações para professores:
ü Evite o toque de muitas mãos;
ü Planeje atividades funcionais para o aluno;
ü Não infantilize, considere sua idade cronológica;
ü Criar uma rotina previsível, com uma possível comunicação;
ü Estabelecer uma relação de confiança;
ü Respeitar o tempo de aceitação;
ü Desenvolver um diálogo não verbal, utilizando os movimentos da criança;
ü Utilizar as habilidades que o aluno apresentar;
ü Enfocar o processo de aprendizagem e não resultados;
ü Perceber suas intenções comunicativas;
ü Dar novo significado a objetos e pessoas.
ü Respeitar o tempo do aluno e não se
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